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Para a objeção da tese de que a verdade estaria somente no intelecto[1], Tomás utiliza os argumentos de Agostinho em Solilóquios rejeita a tese de que o verdadeiro é aquilo que se vê, tomando o exemplo das pedras que estão debaixo da terra são falsas, pois não poderiam ser visualizadas. Também rejeita a tese de que o verdadeiro é o que aparece como tal ao sujeito[2] que conhece, se este quer e pode conhecê-lo. Ao justificar que a coisa[3] está inacessível aos sentidos não pode ter estatuto de verdade. Assim, infere-se que a verdade não estaria para o âmbito do intelecto, mas para sim da coisa. A conclusão que se chega é que a verdade manifesta-se, por assim dizer, conforme o conhecimento da coisa. Parece ser o caso de afirmar que a verdade não ter dependência de um sujeito que a conhece, e seria essencial dizer a origem da verdade no conhecimento, ou seja, nas coisas. O equívoco dos antigos filósofos foi considerarem que a manifestação de uma entidade[4] é necessariamente a verdade, ao passo que, sua não-manifestação configuraria condições de não-conhecimento. Aristóteles, citado por Tomás, afirma nos Primeiros Analíticos: “o que faz que uma coisa seja tal o é mais do que ela.”. O Filósofo coloca em evidência a manifestação da entidade em relação à sua própria existência, no sentido da manifestação perpassar seu âmbito existencial. O fato da coisa ser ou não-ser está relacionado com uma opinião verdadeira ou falsa. Assim, a verdade se encontra mais nas coisas do que no intelecto. Tomás, em sentido contrário, recorre à Aristóteles, que afirma em IV Metafísica que “o verdadeiro e o falso não estão nas coisas, mas no intelecto.” Tomás sugere a seguinte solução: “Assim como chamamos bem[5] [Bonum] àquilo que tende o apetite[6] [Appetitus], chamamos verdade [Verum] àquilo que tende ao intelecto [Intellectus].”[7] Tomás explica que há uma natureza do bem, o que não falta ao ser que se dirige ao apetite, uma inclinação natural que abarca tanto a jurisdição espiritual, quanto a material, e é irreprimível, uma lei natural que não pode ser simplesmente ignorada, anulada ou destruída. Essa naturalidade também ocorre com a verdade que tende ao intelecto, é através dele que se torna possível o conhecimento dos universais e a essência das coisas. A coisa conhecida pode nos remeter ou ao intelecto por si, ou por acidente. Quando é pelo intelecto, significa que esse depende conforme o seu ser. Quando por acidente, trata-se ao intelecto que a torna cognoscível. Tomás cita o exemplo da casa, que remete por si ao intelecto de seu artífice e simultaneamente por acidente ao intelecto, na qual não há relação de dependência. Todavia, Aquino faz a seguinte ressalva: “Ora, o juízo [Iudicium] sobre uma coisa não se faz em razão do que lhe é acidental [Accidens], e sim do que lhe é essencial [quod inest ei per si].”[8] No plano do discurso, uma coisa pode ser considerada verdadeira conforme a relação com o intelecto de que depende. É é por esse aspecto que as produções artísticas são verdadeiras no que tange ao intelecto: A casa corresponde à forma contida na mente daquele que a concebeu. Então “uma frase é verdadeira [Oratio Vera] quando é o sinal [Signum] de um conhecimento intelectual verdadeiro [Intelectus Veri].”[9] Isto pode ser explicado da seguinte maneira: as coisas naturais são verdadeiras à medida em que se assemelham [Similitudinem] às representações [Specierum], localizadas na mente divina. Tomás conclui que: “Assim, a verdade [Veritas] está principalmente [Principaliter] no intelecto [Intellectu], secundariamente [Secundario] nas coisas [Rebus], na medida em que se referem ao intelecto, como a seu princípio [Principium].”[10] O verdadeiro identificado como um transcendental sugere a temática essencial de que Deus não é somente identificado como a causa do ser e de todos os entes criados, mas Ele os causa formalmente por seu conhecimento. Logo, o ente em si é inteligível e um objeto também para os intelectos, que na qual não tem acesso a eles. O ser não pode ser redutível à inteligibilidade, pelas perspectivas do inteligente criado e a do intelecto divino. Não se reduz a esses aspectos e nem acrescenta à inteligibilidade. Tomás considera que a verdade possui diversidades. Considera o que diz Agostinho em Da Verdadeira Religião: “A verdade é aquilo pelo qual é manifestado o que é”, e “A verdade é a perfeita semelhança com o princípio, sem nenhuma dessemelhança”, Hilário, citado por Tomás: “O verdadeiro é a declaração ou a manifestação do ser”, Anselmo citado por Tomás: “A verdade é a retidão que só a mente percebe” e Avicena, citado por Tomás : “A verdade de cada coisa consiste na propriedade do seu ser que lhe foi conferido”. Tendo em vista de que o verdadeiro está formalmente no território do conhecimento, está como conhecido. A concepção de ser verdadeiro, pela ótica da coisa, corresponde a ser aquilo a que se deve conformar a inteligência que conhece. É a partir dessa idéia de conformidade que a concepção de verdade ganha consistência. Quem conhece, sabe que pode conhecer. O que Tomás quer mostrar é que o intelecto é o que origina a verdade, entretanto, a verdade não depende somente do intelecto. E ele faz isso a partir da analogia entre verdade e bem, partindo do princípio de duas faculdades da alma, a saber: intelecto e apetite, aprofunda a relação entre coisa (acidental) e intelecto (essencial). Assim, a verdade que está no intelecto está intimamente relacionada com a relação coisa-intelecto.

[1] O intelecto é a faculdade pela qual um ser espiritual conhece o universal, o imaterial, a própria essência das coisas. Essa palavra não é exatamente sinônima de inteligência: ela não significa apenas a faculdade, mas uma certa qualidade. Ela não traduz, entretanto, aquilo que Sto. Tomás denomina mens, que engloba o conjunto das faculdades espirituais e significa até mesmo, frequentemente a própia alma, enquanto espiritual e princípio de toda atividade intelectual. O intellectus pode significar também o simples e imediato olhar da inteligência. Cf. Joseph Nicolas. Vocabulário da Suma Teológica. Verbete “Intelecto”

[2] Na linguagem moderna, o sujeito real é considerado sobretudo do ponto de vista psicológico e reflexivo. Trata-se então do sujeito consciente e livre que Tomás chama de pessoa. A oposição sujeio-objeto não aparece em seu vocabulário, mas sim em seu pensamento. Para ele, tudo aquilo que é de ordem da consciência comporta essencialmente uma orientação para o ser (que ele chama de intencionalidade) que faz dele seu objeto. Mas, antes de ser consciência, o sujeito é ser e como tal subsistente em si mesmo. Cf. Joseph Nicolas. Vocabulário da Suma Teológica. Verbete “Sujeito”

[3] No uso que faz Sto. Tomás, o sentido da realidade (coisa = res = realidade) deve ser frequentemente tomado em toda a sua força. Opondo a coisa ao objeto pensado e tornando-a um além em si mesmo irrepresentável da representação, Kant faz o leitor de Sto. Tomás tomar consciência da força do realismo que possui para ele o conceito de coisa, ou melhor, de res. A res é o real e é esse real que o pensamento conhece, em sua própria realidade. Cf. Joseph Nicolas. Vocabulário da Suma Teológica. Verbete “Coisa”

[4] O ens, ou ser, a coisa existente, aquilo que exerce o ato de existir ou que é concebido como podendo exercê-lo. Frequentemente, Sto. Tomás o denominará substãncia, sujeito, supósito. Joseph Nicolas. Vocabulário da Suma Teológica. Verbete “Ser”.

[5] Traduz-se frequentemente por bondade esse aspecto do bem (do ser bom), inclinando-se por si próprio para um apetite que tende para ele (e a fortiori quando essa inclinação é voluntária). A distinção entre bem e bondade não se encontra, entretanto bem delineada na terminologia latina. Enquanto atrativo e enquanto termo da inclinação, o bem identifica-se com o fim, e o bem total, infinito, que é Deus, com o fim ultimo. Cf. Joseph Nicolas. Vocabulário da Suma Teológica. Verbete “Bondade”

[6] O conceito de apetite em Tomás de Aquino é muito diversificado e vasto. Abrange tanto o apetite natural que significa a inclinação do sujeito para o objeto de sua conveniência, ou seja, o bem, quanto o apetite elícito que é motivado pela percepção do objeto, juntamente com sua conveniência ao sujeito, ou seja, manifesta-se de uma determinada faculdade como sendo sua própria atividade. Cf. Joseph Nicolas. Vocabulário da Suma Teológica. Verbete “Apetite”

[7] Tomás de Aquino. Suma Teológica. I, XVI, I

[8] Tomás de Aquino. Suma Teológica. I, XVI, I

[9] Tomás de Aquino. Suma Teológica. I, XVI, I

[10] Tomás de Aquino. Suma Teológica. I, XVI, I

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